
Mocidade dá show na comissão de frente, revive sua identidade, mas tropeça em alegorias e clareza do enredo
Igor Schulenburg
3/5/2025
A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu a última noite de desfiles do Grupo Especial com um retorno à sua essência, marcado pela assinatura de Renato Lage. A escola apresentou um visual impactante, com cores vibrantes e referências estéticas que evocaram momentos gloriosos da agremiação nos anos 90, uma homenagem à influência de Márcia Lage. A comunidade de Padre Miguel contagiou a avenida com um canto forte e evolução vibrante.
Um dos pontos altos foi a inovadora comissão de frente de Marcelo Misailidis, que explorou a temática futurista da Inteligência Artificial, questionando a tênue linha entre realidade e ilusão em um mundo tecnológico. A apresentação, com elementos cenográficos dinâmicos e robôs reais, causou forte impacto visual no público.
O primeiro casal, Diogo Jesus e Bruna Santos, representou a Supernova, com uma fantasia que traduziu a explosão cósmica. A dança do casal, vigorosa e com boa sintonia, simbolizou o ciclo de renovação do universo, embora em alguns momentos o excesso de intensidade tenha prejudicado a clareza dos movimentos.
O enredo "Voltando para o futuro – Não há limites para sonhar", apesar da grandiosidade da proposta de viagem intergaláctica e reflexões sobre tecnologia e futuro, pecou na clareza da narrativa. A mensagem central se mostrou confusa e repetitiva, dificultando a compreensão do público. Apesar da divisão em eixos temáticos como a conexão com o universo, o impacto da tecnologia e a obsessão com Marte, faltou uma linha condutora mais definida.
No quesito alegorias, a escola remeteu aos anos 90, com carros que destacaram-se pelo uso da iluminação cênica, provando que é possível impactar visualmente sem depender de recursos externos. Contudo, o acabamento das alegorias e tripés foi considerado simples, com falta de esmero em alguns detalhes. Os temas abordados nas alegorias incluíram a relação da humanidade com a ciência e tecnologia, desde a exploração espacial até a crítica à arrogância humana.
As fantasias acertaram no uso de cores cítricas vibrantes, especialidade de Márcia Lage, criando um conjunto harmonioso e futurista. Entretanto, a escolha por materiais simples resultou em fantasias com acabamento inferior e pouco impacto visual individualmente, apesar da leitura clara dos figurinos e da coesão do conjunto.
A parte musical da Mocidade brilhou com a harmonia impecável do carro de som de Zé Paulo Sierra, com destaque para as vozes femininas, e a bateria "Não Existe Mais Quente" de mestre Dudu, que sustentou o samba com paradinhas precisas e um ritmo contagiante. O samba-enredo, considerado um dos pontos altos, transformou em poesia aspectos complexos do enredo, com referências emocionantes à história da escola e a Renato Lage.
A evolução da escola na avenida impressionou pela leveza e fluidez, com alas alinhadas e compactas, demonstrando organização e espontaneidade. Outros destaques foram o esquenta nostálgico da escola antes do desfile, a numerosa e talentosa ala de passistas, e o brilho da rainha de bateria Fabíola de Andrade. O desfile encerrou-se com uma homenagem emocionante a Márcia Lage, com bandeirões e a presença de Renato Lage vestindo uma camisa com a imagem da esposa, em um momento de reverência à artista e à identidade da Mocidade.